quinta-feira, 28 de julho de 2011

Livro de Tiago Velasco analisa a relação do pop com a mídia e mostra o que Elvis Presley e Mallu Magalhães têm em comum

Por incrível que pareça, Elvis Presley e Mallu Magalhães têm algo em comum. E não é só o fato de os dois cantarem em inglês. O rei do rock e a jovem revelação da internet surgiram, em suas respectivas épocas, mexendo com o imaginário dos jovens, que, na década de 50, encantavam-se com o advento da televisão e, nos idos dos anos 2000, passaram a se impressionar com a grande oferta oferecida pela/na rede. Ambos são artistas pop, rótulo dado aos “beneficiados” pelo poder dos meios de comunicação de levá-los às massas. Em “Novas dimensões da cultura pop”, que será lançado nesta quinta-feira (07/07), às 19h, no Espaço Multifoco (Av. Mem de Sá, 126, Lapa), o jornalista e professor de Comunicação Tiago Velasco fala dessa relação, mostrando as mudanças da cultura pop ao longo dos tempos e citando outros nomes que fazem parte dessa história, tais como Beatles e Madonna. O livro é resultado dos estudos de Tiago no Mestrado em Comunicação e Cultura da UFRJ. Abaixo, uma entrevista com o autor.
GarotaFM: O que podemos esperar de “Novas dimensões da cultura pop”?
Tiago Velasco: É um livro que tenta mostrar como a cultura pop – com foco na música – vem se modificando desde o seu início, em meados dos anos 1950. Para isso, procuro entender o pop como uma forma de economia, como uma manifestação do pós-modernismo e como uma expressão cultural essencialmente jovem, o que não tem a ver necessariamente com a faixa etária, mas como um certo espírito jovem que fica em voga desde meados do século XX. Como a cultura pop está diretamente liga aos meios de comunicação, foi preciso mostrar as mudanças que aconteceram nessa área: do meio de comunicação de massa às novas tecnologias da comunicação, principalmente a web. Isso é essencial, porque essas tecnologias digitais criaram condições para uma mudança na forma de consumir, produzir e distribuir cultura. Mas o que o público em geral deve gostar mais são os estudos de caso, que ocupam metade do livro, mais ou menos. Ali eu procurei mostrar como os ídolos da música de determinadas épocas davam conta de ilustrar aquele momento do pop.
GFM: E quais são os “ídolos” citados no livro?
TV: Falei sobre Elvis Presley, marco do rock e da música jovem. Falei de Beatles, principalmente da passagem dessa música jovem para algo mais “sério”, contracultural, tendo o “Sgt Pepper’s…” como marco. Depois é a época da MTV, com a análise de Madonna e Michael Jackson, período onde o pop ganha seu rei e sua rainha.
Era importante trazer isso para o Brasil, então faço uma breve descrição de como essa música entrou no país, via Jovem Guarda, passando pela Tropicália e se estabelecendo com o Rock brasileiro dos anos 80. E, então, analiso o último ídolo da música, agora não mais de massa, mas de segmento: Mallu Magalhães, pelo seu caráter pioneiro no Brasil no uso bem-sucedido das novas tecnologias da comunicação. Com isso, pretendo não só mostrar uma nova forma de aparecer para o público e gerir carreira, mas também tentar mostrar que qualquer artista de segmento, diferentemente daqueles anteriores analisados, não são representativos do momento do pop, apenas de seu próprio segmento. Essa talvez seja a grande característica da cultura pop de hoje: ela não é apenas massiva; é, ao mesmo tempo, extremamente segmentada.
GFM: Durante sua pesquisa, como vieram à tona os nomes dos velhos e dos novos ícones da música pop?
TV: Os ídolos que escolhi me parecem óbvios. Elvis Presley marca o início do rock, a primeira música de e para jovens, música de marca claramente a distinção geracional. Até então o ídolo jovem era Frank Sinatra, um artista que também agradava aos pais, ou seja, não era “apenas” dos jovens, não representava algo de uma geração que negasse a anterior. Alem disso, com o surgimento do rock, há, também, toda uma restruturação da indústria musical; os Beatles, como já citei, foi porque servem para mostrar essa transição de música pueril para algo ligado á contracultura, uma elevação artística não só musical quanto nas letras. E isso na mesma banda. Ali, a música pop mostrou suas infinitas possibilidades, sua característica aglutinadora, seja de gênero musical seja de referências (simultaneamente eruditas e populares). O estúdio passa a ser um instrumento musical. Em suma: uma série de barreiras, de fronteiras é quebrada. O salto para Madonna e Michael Jackson tem a ver com a MTV – ou quando a música pop vira imagem. Neste período, a TV, o clipe é tão ou mais importante para a música do que o rádio. Impossível pensar em uma música de sucesso sem videoclipe. E é o primeiro canal dedicado ao jovem. Mallu Magalhães é para causa estranhamento mesmo, mas é porque é o primeiro caso brasileiro que faz o caminho das novas mídias para as antigas. A escolha passa muito pelo seu pioneirismo.
GFM: Qual foi o material usado nas suas pesquisas?
TV: Usei muitos livros, não só de música/cultura pop, mas também de teoria da comunicação, de economia, sociologia, antropologia… Mas há, também, matérias de jornais, revistas e sites.
GFM: Fale de sua relação com a música.
TV: Minha relação com a música não começou muito cedo, acho. Lembro que a primeira coisa que gostei de verdade foi Chico Buarque. Eu devia ter uns 10 anos. Depois, vieram o Guns N’ Roses e o Raul Seixas. Agora, o meu mundo caiu de verdade com o “Nevermind”, do Nirvana, em 92. Acho que fui infectado com esse disco.
Foi a música que fez eu largar Economia e fazer Jornalismo. Eu decidi que não tendo talento algum para tocar, escrever sobre música poderia ser uma ótima forma de estar perto do que gosto.
GFM: Fale de sua relação com seus ídolos, citando-os.
TV: Não sou muito de ídolos. A ideia do ídolo me interessa muito, porque, a despeito de discursos sobre fãs alienados, são eles que representam sonhos, angústias, dá uma sensação de pertencimento a uma infinidade de pessoas ao redor do mundo. Talvez, o mais próximo de um ídolo que tenho seja mesmo o Kurt Cobain, por causa estritamente da música, e nem digo das letras, que até hoje nunca traduzi. É o som que me interessa. Ao mesmo tempo, lembro que fiquei bastante emocionado ao ver o Iggy Pop e os Rolling Stones de perto. Dá uma sensação que estamos vendo a história. E isso tem um peso quase tátil.
GFM: Qual seu objetivo com esse estudo? Você conseguiu atingi-lo?
TV: Acho que o meu objetivo era poder pensar algo que curto e, quem sabe, que pudesse me ajudar a entender o que tanto gosto, música pop. Embora eu saiba que não é um estudo definitivo, que poderia ficar melhor, temos que ter um grau de desapego e de noção das restrições que existem a todas as pesquisas, ainda mais de mestrado, com seu curto tempo de dois anos. Ainda assim, sem dúvida alguma eu entendo melhor a música pop, sem falar de uma leitura diferente. Pode até ser meio chato, porque muito da magia foi descoberta, mas, juro, continuo achando interessante

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