sexta-feira, 4 de novembro de 2011

'Eu queria ter amigos, como todos, mas não conseguia', diz Mallu Magalhães


Cantora acaba de lançar seu novo disco, 'Pitanga', que tem produção do namorado Marcelo Camelo


Pedro Antunes - Jornal da Tarde

Antes da entrevista, a cantora Mallu Magalhães, de 19 anos, faz um pedido especial: “Eu posso sentar ali perto do sol?”. Ela acaba de lançar seu terceiro álbum, Pitanga (R$24,90, Sony Music), produzido por Marcelo Camelo, seu namorado e com quem divide dois apartamentos em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Acho um desperdício o ser humano ver o sol e ficar longe”, justifica. Mallu passa por um novo momento na vida, profissional e pessoal.
Mallu amadurece em 'Pitanga' - Marcio Fernandes/ AE
Marcio Fernandes/ AE
Mallu amadurece em 'Pitanga'
Aprendeu a gostar de si, do jeito que é. Velha e Louca, como na canção que abre o disco? “Quando eu me assumi pra mim como louca, percebi que não existe outra possibilidade”, diz ela, sorridente, sentada numa cadeira e recebendo raios solares. Hoje, ela pinta e borda - literalmente - e não se incomoda com o que os outros dizem. Mas nem sempre foi assim.
O disco começa com Velha e Louca. É como você se vê? 
Todas as músicas são sobre mim. Sempre tive esse jeito muito sincero e íntimo de compor. Neste disco, além de assumir isso, eu fiz um trabalho com o Marcelo (Camelo) para desenvolver mais esse jeito.
Mas, calma, como assim velha? Você tem 19 anos... 
Tenho hábitos e gostos de uma senhorinha. Gosto mesmo é de ficar bordando, acordar umas 5h30 e ver Globo Rural, tomar um café da manhã longo, bebendo chá (risos). Não gosto muito de festa. Prefiro ficar em casa.
É mais velha do que louca? 
Não, tenho muito mais de louca. Quando eu me assumi louca, percebi que não existe outra possibilidade. Não existe pessoa normal. A vida ficou mais agradável. Desisti de procurar qualquer normalidade, qualquer fórmula. Eu tenho uma mentalidade e um universo muito próprio, muito pessoal.
Falando em autonomia, há um verso nessa mesma primeira música que diz: “Agora eu sou dona do meu próprio nariz”. É isso? 
Nos outros, tinha alguém ‘narigando’ por mim (risos). Ainda bem. Eu era muito dirigida, mas acho ótimo. Teria ficado louca de verdade. Era muito novinha, criança.
Eram duas vidas, não é? 
Isso era muito louco para a minha cabeça. Eu deveria ter feito muita análise e não fiz. Hoje, eu tomei a decisão de ser compositora, musicista. Vou arcar com isso. Eu quero ser eu, né? Esse é meu estado de espírito atual: forte, bem resolvida, não devo nada a ninguém.
E como foram os tempos de colégio? Você já era conhecida. 
Essa foi a minha maior dificuldade. Já tinha uma dificuldade social antes de trabalhar e, quando isso aconteceu, foi tudo por água abaixo. Mudava de escola, mais ou menos, a cada dois ou três meses. Não me encontrava. Eu chegava na escola e já era alguém pra essas pessoas. Alguém que eu não era, sabe? Hoje em dia, eu lido bem com isso. Tenho o meu círculo social completo, tenho paz no meu relacionamento e não dependo da opinião dos outros. Mas eu era vulnerável. Queria ter amigos, como todos, mas não conseguia.
E era boa aluna? 
Estudava demais. Quando comecei a trabalhar, a cobrança continuou existindo. Era escolher: ou eu estudava ou compunha. Escolhi estudar. Isso gerou um atrito muito grande entre eu e meu pai, eu e mim mesma, eu e a escola. Era sempre muito turbulento.

E como foi o convite para o Marcelo Camelo produzir o disco? 
Não me lembro do momento. Acho que as coisas começaram acontecer, durante a própria composição. Eu e o Marcelo dividimos músicas. Passamos o dia em casa fazendo isso, né? Foi natural.
Ele participou tanto do Pitanga. Por que você não participou do Toque Dela
Não sei... (silêncio). A participação está um ou dois passos antes.
Ele é alvo de adoração. É difícil conseguir sair na rua? 
É divertidíssimo! Ele é abordado na maioria das vezes. Eu, só às vezes. Disfarço: tiro a franja, coloco uma faixa na cabeça, tiro o salto. Eu choro de dar risada. Alguém me para na rua e diz: “Você é a cara da Mallu Magalhães! Mas ela era mais baixinha, mais gordinha” (risos). Cara, quem não gosta de carinho, né? Acho bom.
Mas vocês saem muito? 
Somos basicamente caseiros, não somos de sair. Vamos ao cinema, em alguns shows, mas é bem raro.
Você lembra como foi esse primeiro encontro com ele? 
A primeira vez que eu o vi, eu me apaixonei. Mas não falei nada.
No encarte do disco, você agradece a coisas como “os raios do sol, as pessoas da rua, a dona Helena do restaurante por quilo”...
Aliás, preciso dar um CD pra ela.
Mas como isso inspira você? 
Essas coisas cotidianas? Não sei, levo minha vida pelo momento. Não que eu viva loucamente, sem medos. Mas são coisas essenciais para minha formação como pessoa e para o disco. Os raios de sol, pra mim, são fundamentais. A Dona Helena trazia um bife a mais e dizia: “Come, filha, você é muito magrinha”.
Você cita suas plantinhas... 
Sou apegadíssima a elas. Gosto muito dessas pequenas coisinhas que, pra mim, são gigantes. A pessoa se deixa obstruir pelos conceitos, conteúdos, parâmetros e alegrias alheias, e se fecha num ciclo de infelicidade e não sabe sair. O caminho tá ali, cara!
Você fez sucesso desde cedo. Você acha que foi prematuro? 
Honestamente, não consigo ter esse julgamento da vida, de que uma coisa deveria ter sido antes ou depois, do fundo do meu coração. O ser humano é muito pequenininho e o tempo é tão grande.
Você nunca cogitou fazer outra coisa da sua vida? 
Eu falava para mim que tinha de ter uma profissão. “O que eu ia fazer? Ficar tocando?” Cheguei a levantar os documentos para fazer matrícula na faculdade, mas voltar para aquele frenesi? Eu não!
E você queria fazer o quê? 
Pensava em design de moda, artes plásticas ou letras.

Hoje, você está diferente. Ficou mais vaidosa com o tempo? 

Eu criei um carinho por mim. Identifiquei em mim a possibilidade de me expressar, me desenvolver até atribuir em mim coisas que eu sinto falta. Eu identifiquei isso nas maquiagens, nas roupas.
As pessoas acabaram acompanhando todo o seu crescimento, querem saber da sua vida. Como você lidou com isso? 
Já me incomodou, e não me incomoda mais. O mais curioso é que tudo isso veio ao mesmo tempo: a decisão de tocar, o Pitanga, o meu relacionamento com o Marcelo. Decidi que não tinha nada a esconder. Por que vou ter receio do que as pessoas vão pensar? Dane-se!
A repercussão da sua declaração de que você tinha medo de tomar banho sozinha não incomodou? 
Acho que é mais angustiante para a pessoa que leu. Porque eu li e falei: “É, pode crer, eu não gosto de tomar banho sozinha”.
Hoje, você lida bem com isso. Mas e quando você e o Marcelo começaram a namorar? 
Antes os comentários eram mais frequentes. Mas a gente tinha tanta firmeza e uma paz grande de como a gente estava. De nós dois, sabemos nós dois.
Com essa firmeza toda, você já pensa em ter filhos? 
Eu penso muito. Mas vai demorar alguns anos. Eu preciso me estabilizar emocionalmente, mentalmente, financeiramente. Falta isso para eu me sentir apta a ter e criar uma criança, mas eu vou chegar lá (risos)!
Estadão
Fonte: Comunidade Oficial

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