terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Quero ser grande

Mallu Magalhães lança seu segundo CD

Mallu Magalhães é a garota paulista que roubou a cena (independente) da música brasileira no ano passado. Fez sucesso via internet, virou artista requisitada para shows em diferentes partes do Brasil – o que lhe trouxe alguns contratempos na vida escolar –, lançou um CD e tornou-se namorada de um de seus ídolos, o hermano Marcelo Camelo. Agora, aos 17 anos, ela já enfrenta o desafio de apresentar um segundo disco autoral.

O novo Mallu Magalhães traz muitas novidades em relação à estreia. A discípula de Bob Dylan e Johnny Cash mostra que não pensa apenas em inglês – quase metade das 13 músicas do disco traz versos em português, e algumas (Versinho de Número Um, Te Acho Tão Bonito) remetem diretamente ao som emepebístico exercitado por Camelo no Los Hermanos ou em carreira solo. O toque folk permanece, em inglês (Ricardo) ou português (Nem Fé nem Santo), acrescido de uma investida pelo reggae (Shine Yellow, composta no ukelele durante uma viagem a Portugal). Há belas melodias (Compromisso, Bee on the Grass, O Herói, o Marginal) para letras nas quais se sobressaem as declarações de amor ao namorado (Soul Mate e É Você que Tem) – a voz ainda é de menina, mas o conteúdo do disco não deixa de sinalizar uma promissora artista.

Por telefone, Mallu falou a Zero Hora sobre sua vida entre um disco e outro. Confira trechos:

Zero Hora – Você viveu muitas transformações no ano passado e neste ano. Como isso influiu nas músicas do novo disco?

Mallu Magalhães – Você acaba vivendo mais e tendo outras influências. Eu adquiri mais tranquilidade para escrever em português. Ficava mais à vontade escrevendo em inglês, mas me libertei deste medo. É um disco muito sincero e direto, tem uma intenção de comunicar mais diretamente. Eu sou assim, direta e sincera. Agora, acho que ficou mais fácil me expressar.

ZH – Como foi trabalhar com Kassin (produtor de artistas como Vanessa da Mata, Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto)?

Mallu – Ele acompanhou os ensaios, conseguiu polir bastante o som, foi bem complementar. E nos demos muito bem. Sempre fui fã dele, desde os tempos do Acabou la Tequila (banda de destaque no cenário independente carioca da década de 90, que contou com Kassin na formação). Ele teve muito a acrescentar, respeitando minhas características.

ZH – Como artista em início de carreira, você teve dificuldade em fazer valer suas ideias durante a produção de seus dois discos?

Mallu – Sempre fui certa do que queria, das coisas de que não gostava e das coisas de que gostava. Você chegar a um lugar novo, com pessoas novas, sendo uma menina, você tem que aprender a se posicionar. Não foi difícil, eu sempre tentei explicar bem o que queria. Dou atenção, ouço, mas não só ouço os outros, eu falo bastante, também. As canções vêm muito sinceras. Eu e Kassin nos entendemos bem. Às vezes, tenho um pouco de medo de ver se (alguma ideia) vai ficar legal, e ele ajudou muito nisso. No primeiro disco, eu estava meio que brincando, só fazendo, não tinha preocupação. Hoje, já me preocupo um pouco mais.

ZH – Você tem viajado bastante, inclusive ao Exterior? Como foi conciliar isso com a escola?

Mallu – Eu concluí agora o 2º ano (do Ensino Médio). Encontrei uma escola que sabe dos meus limites e que recebe também modelos, atores jovens, alunos que têm dificuldades para conciliar horários. Posso fazer as provas em outros dias (se a data coincide com algum show ou turnê) e fazer trabalhos para compensar ausências em algumas atividades.

ZH – Você já decidiu se vai adotar a música como uma profissão?

Mallu – Não tenho muita segurança disco. A gente passa por muitas dificuldades. Às vezes, penso em desistir. Mas olho para os fãs que se emocionam com as músicas, se sentem bem. É tão válido que lembro disso nos momentos de fraqueza. Claro que também tenho o apoio da família e das pessoas próximas, e isso é decisivo. Hoje, (a música) é uma hipótese que eu vejo com mais otimismo. Já sei da minha insegurança. Sei, por exemplo, que tenho medo de avião, mas no fim eu vou (viajar de avião). Acho que tenho, assim, talento. Fico animada vendo a sinceridade das canções e como elas atingem as pessoas. Não fico medindo isso todos os dias, pensando “é isso ou não é isso”. Eu sei é que é isso que estou fazendo, com sinceridade.

ZH – E como a convivência com Marcelo (Camelo) te influencia como artista?

Mallu – Me influencia de vários lados. Primeiro, o emocional, pela nossa relação. E sempre fui super fã dele, no Los Hermanos e na carreira solo. Mas não era fã maníaca, do tipo que dizia: “Vou namorar o Marcelo”. É legal ter ele ao lado, especialmente em horas em que eu me questiono sobre as dificuldades (de ser artista) e me pergunto: “Será que é doído assim?”. Ele me dá apoio, é alguém que tem tanto tempo de carreira. Eu pergunto sobre alguns acordes, sobre como tocar uma determinada música, e ele me ajuda. E também é importante em escolhas sobre gravadoras, sobre mercado. É legal ter alguém que te avise quando você é abordada por um crápula: “Esse cara é um crápula”. (ri)

ZH – Vocês dois são compositores. Vocês já compuseram juntos?

Mallu – Não escrevemos juntos, cada um tem seu processo. Ele compõe bem devagar, fica horas e horas num acorde, numa palavra. Eu, às vezes, empaco também. Mas, na hora, vem a inspiração, e eu meio que cuspo a música. São coisas muito pessoais.

ZH – Quando você termina uma música, para quem vai mostrá-la?

Mallu – Eu mostro para todo mundo. Meu pai, Marcelo, minha mãe... São as pessoas próximas, quero que elas gostem. Uma vez, fiz um sambinha e mostrei para o meu pai. Ele disse (imita uma voz masculina, bem-humorada): “Gosto mais das rapidinhas”. Aí desisti da música, claro.

ZH – Você já tem músicas novas para um próximo disco?

Mallu – Eu produzo pra caramba, o tempo todo. Já tenho um começo, algumas músicas. Mas sou tão mutante que não sei mais nada.

luis.bissigo@zerohora.com.br

LUÍS BISSIGO

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